com pocos, pero doctos, libros juntos,
vivo en conversación com los difuntos
y escucho com mis ojos a los muertos" >
Quevedo
Nada pode ser tão ruim que não possa piorar
No começo do milênio, o acaso de uma herança, o leilão de um prédio e a obstinação de um brasileiro forjado pelo sucesso do business americano o impulsionam a criar seu próprio HOTEL no Brasil — que termina virando palco do governo em exercício para formar alianças espúrias e envolver o país em uma malha de corrupção que lhe permita a perpetuação no poder via eleitoral.
Um intelectual irreverente, sardônico, com ideias fora dos padrões nacionais, age como desconcertante desmistificador do mofo ideológico revelado pelas principais figuras públicas nos eventos convocados pela situação e oposição dentro do hotel, conduzindo o romance para suas variantes hilárias, no debate que se trava entre representantes da esquerda jurássica (O Santo Tanso) e da direita naftalina (O Pomposo Psicopompo).
Em paralelo, o contraste entre esse homem que retorna ao Brasil esbanjando otimismo, e uma mulher descontente que jura deixar o Brasil a qualquer custo, cria surpreendentes situações psicológicas entre pessoas cuja mentalidade política degenerada pela corrupção em nada se assemelha ao racionalismo do cotidiano daqueles que não participam do poder. As pessoas cujas preocupações estão focadas nas tarefas do trabalho, assumem o perfil de seriedade condicionado pela imposição ética das relações sociais no respeito as normas. Do outro lado, aqueles cuja sobrevivência está deformada pelo privilégio de benefícios oligárquicos e com um comportamento marcado pela bajulação ardilosa, pela malevolência capciosa. Esta diferença define a paisagem humana em que se move o romance.
O autor recria episódios da vida nacional com sua própria nomenclatura, sempre citando nomes fictícios para personagens reais, permitindo assim botar na boca de seus personagens as palavras que caracterizam o perfil psicológico que conhecemos da mídia.
Mas o que é realmente a “insondável matéria do esquecimento?” Ao apresentar episódios da vida nacional totalmente esquecidos pela academia e mídia, o romance tem como background nosso descaso com o Brasil na medida em que nos dedicamos a imitação do exterior e sequer imaginamos o fecundo conteúdo de nossa identidade abandonada. Para provar isso, o autor dedica alguns capítulos para reaviar nossa memória com obras de personalidades importantíssimas da nossa história que são uma lição para estes tempos bicudos.
Se o lado oficial das práticas governamentais consiste em mudar tudo de tempos em tempos: nomes de instituições, órgãos reguladores, impostos, ministérios, departamentos e até a sintaxe da língua, que o autor chama de operações proteiformes, a causa invisível é a necessidade de fazer de conta que se muda, e ao mesmo tempo, conservar os males existentes que são as causas da necessidade de mudança. Se o Brasil fosse o guardião das regras do futebol, a cada dois anos haveria modificação nas regras pelo simples desacordo constante entre clubes e federações. E hoje o jogo seria disputado por equipes com o dobro de jogadores de cada lado, com substituição obrigatória para atender aos requisitos dos diretores dos clubes, as traves seriam maiores, o tamanho do campo também e a duração da partida não haveria de ficar no convencional. E as faltas? Bota aí uma nova diretriz. Mudem-se os pênaltis, e assim por diante. Esta ideofrenia pela mudança das convenções comumente é comandada por pessoas que se dizem conservadoras. Não sobra ao escritor outro recurso senão a sátira demolidora, o humor lampejante capaz de iluminar o conhecimento de nós mesmos.
Sabendo que é muita coisa para um volume só, o autor já deu início ao segundo volume.
O livro pode ser obtido em papel através da editora neste link.
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