terça-feira, 22 de outubro de 2019

SURVIVING THE FUTURE

"Retirado en la paz de estos desiertos,
com pocos, pero doctos, libros juntos,
vivo en conversación com los difuntos
y escucho com mis ojos a los muertos"
Quevedo

ARNOLD TOYMBEE – SURVIVING THE FUTURE – Oxford University Press – 1971

Conservo o título original porque a tradução do texto é minha

Pg. 7: A vida do ser humano é uma constante luta entre o lado racional e o irracional da natureza humana. Nós estamos sempre tentando conquistar um pouco mais da nossa natureza para a razão da emoção cega, e estamos frequentemente perdendo terreno, quando então o irracional ganha do racional. No meu ponto de vista, o conjunto da vida humana é uma luta para tornar a razão predominante.

Pg. 57: O motivo da curiosidade intelectual não é utilitário, mas é desinteressado. Por isso, penso que não é sem propósito. A curiosidade sem propósito é desorientada e insensata. O propósito que inspira a curiosidade pode não estar continuamente presente na mente do inquiridor, e algumas cabeças talvez nunca estejam conscientes deste propósito.

O propósito básico da curiosidade, sendo consciente no momento ou não, é a aquisição do conhecimento e entendimento para o propósito da ação: e ação que é o objetivo último da curiosidade humana é, creio, ação para ganhar um contato íntimo com a presença espiritual além do universo, em ordem de entrarmos em comunhão com ele e levar nossos seres efêmeros em grande harmonia com ele.

Pg. 61: O homem é parte integral da natureza, embora ele é um pouco mais. A natureza humana e a natureza não-humana tem uma relação idêntica com a presença espiritual além do universo. Para ambas, o significado e valor da existência deve ser encontrado em entrar em harmonia com a presença espiritual que é a última realidade... Seres não-humanos, certamente fazem isso inconsciente e instintivamente; seres humanos pretendem fazer isso consciente e deliberadamente.

O homem primitivo não teve dificuldade em sentir respeito pela natureza. Aliás, ele esteve em admiração da natureza, porque estava à mercê da natureza. O culto da natureza era assim a mais antiga forma de religião humana.

Pg. 65: Falando sobe o rápido declínio do Império Prussiano: ‘Aqui, a deificação do poder humano requer a devoção do estado deificado em sacrifício de suas vidas, e talvez sua honra também para o benefício desse ídolo.

Pg. 79-80: UTOPIA

Uma das formas das tentativas de beneficiar-se das lições da experiência algumas vezes se revela na imaginação de Sociedades Utópicas. Isto começou na Grécia Antiga, e deve ser notado que os gregos começaram a escrever relatos de sociedades ideais e imaginárias depois de sentirem que o pico de sua civilização tinha passado. Antigas utopias gregas formam cópias de projetos para parar e inverter o declínio da civilização, relevando-a ao nível de seu zênite passado. Um pouco por isso, as utopias gregas foram projetadas para prender a civilização no seu presente nível, na esperança de salvá-la de afundar ainda mais. As utopias gregas eram de um semblante atrasado, conservadoras e reacionárias. Isto é verdade especialmente no filósofo ateniense Platão. O mais famoso de seus diálogos, no qual esboça uma sociedade imaginária, é A República, mas em idade avançada escreveu um outro diálogo mais longo chamado As Leis. A sociedade imaginária descrita nas Leis é mais na terra que a sociedade no A República, e é também mais reacionária, social e politicamente. É de fato, uma sociedade fascista, ou pode-se dizer uma sociedade cristã medieval, na qual os heréticos são postos a morrer se eles recusarem confessar e renegar os seus erros.

... A palavra utopia não foi inventada pelos gregos; era desconhecida deles, embora seja uma palavra grega artificial. ‘U’ significa ‘não’, ‘topos’ significa ‘lugar’. Utopia significa ‘não-lugar’, ‘um lugar que não existe’, um local imaginário.

Pg. 97: Foi uma grande decepção para a unidade do mundo ocidental que o latim cessou de ser a linguagem internacional do Ocidente.

Pgs. 97-98: As línguas artificiais (Esperanto) são paralíticas por duas razões. Elas não tem uma literatura e não tem associações emocionais.....

O hebreu foi, por séculos, usado somente como língua litúrgica. A língua franca da diáspora judaica tornou-se o Yiddish (um dialeto germânico escrito em alfabeto hebreu).
... O incentivo (para a criação das línguas Irlandesa, Norueguesa e Hebraica) foi o sentimento nacional, e no caso judaico foi reforçado por sentimentos religiosos, desde que para os Judeus, nacionalidade e religião são inseparáveis.

Desde 1920 e poucos, os turcos passaram a usar a língua árabe escrita com caracteres latinos e no Vietnam, o vietnamita substituiu seus ideogramas chineses pela escrita com caracteres latinos.

Pg. 107: nós também esperávamos que o progresso da ciência e da tecnologia fizesse a humanidade mais rica, e que o aumento da riqueza gradualmente passasse de uma minoria para uma maioria.

Em 1971 o mundo é muito menos humano do que em 1913. Nós temos que encarar a possibilidade do mundo se tornar ainda mais inumano no final do presente século. Pelo ano de 1700 no mundo Ocidental, a guerra tornou-se uma disputa entre exércitos profissionais. Foi uma disputa de governos e não mais uma luta entre os povos.

Esta condição de aumento de anarquia social me parece ser incompatível com as demandas da tecnologia, porque a tecnologia requer uma crescente arregimentação da vida, um crescente grau de ordem e regularidade.

Pg. 116: as multidões que foram induzidas ou compelidas a drenar e irrigar os pântanos e florestas do antigo Iraque e Egito, que formam os berços das duas principais civilizações, devem ter sido previamente condicionadas. Eu acho que a religião (o que chamamos de ‘baixa’ religião do nacionalismo) é também o primeiro condicionante que permite ao ‘establishment’ transformar homens em soldados e treiná-los para matar seus semelhantes sem animosidade pessoal e sem compunção.

Pg. 136: Sobre a questão do programa de exploração espacial ser bom ou ruim, importante no momento ou postergável: ‘Decisões sobre prioridades são sempre decisões éticas: o que deve vir corretamente em primeiro ou por último do ponto de vista do que é bom e justo para a humanidade?’

Pg. 138: Não é o programa espacial moralmente ofensivo na sua presente alta prioridade como as construções das Pirâmides e a construção do Palácio de Versalhes? Eu sinto que o programa espacial é moralmente indefensável, não em si mesmo, mas porque ele tem recebido prioridade sobre alimentação, vestuário e habitação para a maioria pobre da raça humana. Sinto que essa gritante necessidade deve ter o primeiro apelo nos recursos humanos, energia, e habilidade. Também suspeito que o governo dos Estados Unidos e União Soviética não deveriam gastar nos programas espaciais os enormes recursos que realmente gastam se não tivessem que competir entre si para a ascendência política e militar do planeta. Considero a competição infantilismo em si mesma, é imoral numa época em que a maioria da humanidade é pobre, e criminosa numa época em que as grandes potências competidoras estão armadas de armas atômicas.

[Resumo elaborado entre 1982 e 1984. Comentário de 2011: Um historiador que não entendeu que as forças da competição mudaram a história só pode ser um turista inglês passeando pela história, como disse Ortega de Toymbee].


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