segunda-feira, 25 de maio de 2020

Ópios e Rodopios nos Trópicos

"Retirado en la paz de estos desiertos,
com pocos, pero doctos, libros juntos,
vivo en conversación com los difuntos
y escucho com mis ojos a los muertos"
Quevedo

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O Último Barroco

Um grupo de estudantes gravitando em torno de uma república chamada Amarelinha tem na irreverência a agregação potencializadora de expectativas que buscam a satisfação de conflitos existenciais.

Em linguagem ornamental, o livro vai revelando o autor como "o último barroco” por ressuscitar um passado parnasiano perdido na correria do progresso, extraviado em meio à comunicação verbal direta e sem brilhantismo que segue as transformações tecnológicas impostas pela agilidade do viver.

Em um mundo de mensagens abreviadas, de manchetes e chamadas curtas, faz algum sentido retomar o exercício da fala rebuscada e erudita? O livro mostra que não pode haver erudição em literatura sem que a própria linguagem seja sua expressão vibrante.

Inicialmente, um texto tão prolífico pode causar estranheza, mas o leitor logo percebe que o exagero associado à exuberância existencial é próprio de quem leva o inconformismo para a realidade do agir e sentir.

Que tipo de inconformismo se pode esperar de uma sociedade arcaica senão reagindo com violência verbal? Na atmosfera asfixiante do regime militar de então, o único recurso era a retórica debochada, o riso sarcástico, a ironia sardônica.

A busca do novo, a vontade de ser outro, de estar longe, com outra gente, e valores diferentes dos convencionais, foram o substrato de toda aquela geração universitária.

O conflito entre o indivíduo e uma sociedade medíocre, que reduz a inteligência a cinzas, a fugas de alívio e contentamento — arte culinária e prostituição, música clássica e jazz, álcool e cigarros, repressão e medo, boemia alucinada —, atravessa o livro com extravagância até desembocar no romance entre uma pintora e um estudante que se envolvem num rodopio de paixão instantânea, seguido de solidão e desencontro.

A ausência se traduz em amor na solidão, no desejo do reencontro, no fim de curso, de época, de um tempo que nunca mais voltará.

A busca do novo, a vontade de ser outro, de estar em outro lugar com outra gente, com outros valores diferentes dos convencionais são o substrato de toda uma geração universitária.

Estamos vivendo uma época que vai repetindo o passado assombrosamente. Vivemos de fracasso em fracasso, como cantava Nelson Gonçalves na canção de Mário Lago. Nela, o fracasso é não poder se esquecer de um amor — "fracasso por compreender que devo esquecer / fracasso porque já sei que não esquecerei / fracasso, fracasso, fracasso, fracasso afinal / por te querer tanto bem e me fazer tanto mal". Em nosso momento histórico, por esquecer o que passou e nos querer tanto mal a ponto de repetir os mesmos erros.


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