com pocos, pero doctos, libros juntos,
vivo en conversación com los difuntos
y escucho com mis ojos a los muertos"
Quevedo
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Crispim Mira
Há muito tempo, intelectuais com raízes na história do Brasil reclamam do esquecimento a que foi relegado o jornalista Crispim Mira.
O lançamento em 1920 do “Terra Catarinense” de Crispim Mira teve excelente acolhida de um dos mais instigantes intelectuais brasileiros de todos os tempos – Monteiro Lobato dedicou dois artigos ao “Terra Catarinense”, depois reunidos em seu livro “A Onda Verde e o Presidente Negro”.
Não é comum que alguém dedique 2 artigos elogiosos a um mesmo livro. Na verdade, Lobato estava impressionado com o estilo literário de Crispim Mira muito mais do que com a finalidade do “Terra Catarinense” – apresentar Santa Catarina no VI Congresso Brasileiro de Geografia que se realizaria naquele ano em Belo Horizonte.
No livro, Crispim Mira reuniu seu talento jornalístico com o conhecimento social, econômico, histórico e geográfico da formação dos municípios e povoados catarinenses, com os fatos mais importantes da política e cultura da época, apresentando um Estado pouco conhecido ou apenas falado como referência geográfica naqueles tempos. Crispim Mira mistura a geografia humana com a política, a paixão catarinense por passarinhos com a guerra do Contestado, as tradições folclóricas com as aflições causadas pelas enchentes, a tal ponto que ao descrever uma paisagem envereda na descrição dos homens que ali transitam ou habitam, mesclando o estudo formal com uma prosa literária de “causos” e estórias de vaquejadas, tropeiros, e de hábitos familiares e aspectos da vida privada catarinense.
Nascido em Joinville em 1880, já na virada do século iniciava sua carreira jornalística na Gazeta de Joinville. Em 1901, vai para o Rio de Janeiro estudar Direito. Não termina o curso e retorna para Joinville onde funda o Jornal do Povo em 1905. Em 1908 é convidado para o cargo de redator da Gazeta Catharinense do amigo e senador Hercílio Luz, em Florianópolis. Em 1909, funda a Folha do Commercio e seu jornalismo adquire plena maturidade pela independência de suas posições e distanciamento crítico entre as atividades pública e privada na sociedade catarinense, conferindo-lhe reputação e respeito. Em 1918 volta a trabalhar como redator do Jornal República do seu velho amigo Hercílio Luz – agora governador de Santa Catarina. Em 1924, de volta à terra natal, assume a função de advogado provisionado e colabora com os jornais locais e, em 1926, retorna a Florianópolis onde funda seu último jornal, o Folha Nova.
Por haver denunciado os desvios de verbas federais no porto de Florianópolis, Crispim Mira foi assassinado em 1927 em um crime político, em que seus réus confessos foram absolvidos, deixando uma obra quase esquecida até mesmo para seus conterrâneos.